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Por Que o Governo Está Protegendo as Casas de Apostas em Detrimento da Indústria Brasileira?
Enquanto fábricas fecham, empregos se evaporam e famílias nordestinas mergulham em dívidas por vício em apostas online, o governo federal toma uma decisão que parece saída de um roteiro distópico: proteger as *bets* e sobrecarregar ainda mais o setor produtivo. Em 8 de outubro de 2025, a Associação Nordeste Forte — que representa as federações industriais dos nove estados da região — emitiu um comunicado contundente repudiando a retirada do aumento de tributos sobre apostas esportivas da Medida Provisória 1303/2025. O que parecia ser um passo lógico rumo à justiça fiscal e à proteção social foi, na prática, descartado como se fosse papel velho. Enquanto isso, o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre juros sobre capital próprio (JCP) subiu de 15% para 20%, pesando diretamente nas empresas que geram empregos, inovação e riqueza real.
Mas por que isso importa? E por que você, que talvez nunca tenha apostado um centavo em uma partida de futebol, deveria se importar com essa decisão?
A Indústria Brasileira Está Sufocada — e o Governo Só Aperta o Laço
O Brasil já carrega uma das cargas tributárias mais pesadas do mundo. Segundo dados da Receita Federal, a arrecadação tributária superou R$ 2 trilhões em 2024, representando quase 34% do PIB. Mesmo assim, o governo insiste em buscar novas formas de extrair recursos do setor produtivo, como se as empresas fossem caixas eletrônicos infinitos. A indústria, em particular, sofre com uma combinação letal: burocracia asfixiante, infraestrutura deficiente e, agora, uma política fiscal que privilegia setores especulativos em detrimento da produção concreta.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e suas representações regionais, como a Nordeste Forte, têm alertado há anos: cada novo imposto sobre empresas é repassado ao consumidor final. Não há mágica aqui — há matemática implacável. Quando o custo de operar no Brasil aumenta, os preços sobem, a competitividade cai e o emprego some.
O Que São Apostas Esportivas Online — e Por Que Elas São um Problema Social
Antes de mergulhar nos números fiscais, é essencial entender o que está em jogo. As *bets*, ou apostas esportivas online, explodiram no Brasil nos últimos cinco anos. Estimuladas por campanhas milionárias, influenciadores digitais e uma regulamentação ambígua, transformaram-se em uma verdadeira epidemia digital. Plataformas estrangeiras operam com relativa liberdade, atraindo milhões de brasileiros com promessas de enriquecimento fácil.
Mas a realidade é outra. Uma pesquisa do Ipespe divulgada em 2025 revelou que 51% dos nordestinos afirmam que as apostas impactaram negativamente suas finanças pessoais ou familiares. Isso não é um dado isolado — é um grito de socorro. Enquanto famílias vendem bens, contraem empréstimos e entram em depressão financeira, o Estado se recusa a taxar adequadamente esse setor de alto risco.
A Medida Provisória 1303/2025: Um Texto Cheio de Contradições
A MP 1303/2025 foi apresentada como uma alternativa para compensar a perda de arrecadação com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), cuja alíquota foi reduzida para estimular o crédito. Em sua versão inicial, o texto incluía um aumento da tributação sobre apostas esportivas: de 12% para 18% sobre a receita bruta líquida (ou seja, o total arrecadado menos os prêmios pagos). Parecia justo: um setor de alto risco social e baixa contribuição produtiva pagaria sua parte.
Mas, na calada da noite legislativa, o trecho desapareceu. Sem debate público, sem audiência com a sociedade civil, sem consulta às entidades representativas. O que permaneceu? O aumento do IRRF sobre JCP — um mecanismo legítimo de remuneração de acionistas, amplamente utilizado por empresas listadas em bolsa.
Por Que Taxar Apostas Faz Sentido — Economicamente e Socialmente
Taxar mais as apostas não é punição — é responsabilidade. Primeiro, porque o setor opera com margens astronômicas. Segundo, porque gera externalidades negativas: endividamento familiar, saúde mental comprometida, aumento da criminalidade relacionada a dívidas. Terceiro, porque é uma forma de tributação progressiva: quem aposta mais, paga mais.
Comparado com outros países, o Brasil está atrasado. Na França, a alíquota sobre apostas esportivas chega a 22%. No Reino Unido, há um imposto de 15% sobre a receita bruta das casas de apostas, além de rigorosas regras de proteção ao consumidor. Aqui, o que vemos é o oposto: um setor quase desregulado, com tributação simbólica e impacto social devastador.
O Nordeste: A Região Mais Afetada pela Epidemia das Bets
Não é por acaso que a Associação Nordeste Forte liderou o repúdio. O Nordeste é, simultaneamente, a região com maior vulnerabilidade socioeconômica e maior exposição às apostas online. A combinação é explosiva. Jovens desempregados, sem perspectiva de futuro, são alvo fácil de campanhas agressivas que prometem “ganhar dinheiro sem sair de casa”.
Os dados do Ipespe são alarmantes: mais da metade dos nordestinos já sentiu no bolso o peso das apostas. Isso significa menos comida na mesa, menos remédio na farmácia, menos educação para os filhos. Enquanto isso, o governo opta por não taxar esse setor — e ainda aumenta impostos sobre quem produz empregos e renda.
A Indústria Não é Inimiga do Povo — É Sua Aliada
Há uma narrativa perigosa em circulação: a de que “as empresas pagam pouco imposto”. A realidade é outra. A indústria brasileira paga, em média, 68% a mais de impostos do que suas concorrentes na América Latina. Isso sem contar os custos trabalhistas, ambientais e de compliance. Mesmo assim, é constantemente castigada por políticas fiscais míopes.
A decisão de manter o aumento do IRRF sobre JCP é emblemática. Os JCP são uma forma legal e transparente de distribuição de lucros. Ao taxá-los mais, o governo desestimula investimentos em ações, reduz o apelo do mercado de capitais e afasta investidores estrangeiros. Em vez de atrair capital, o Brasil o repele.
Quem Realmente Paga a Conta dos Impostos?
Muitos acreditam que “as empresas pagam impostos”. Engano. Empresas são entidades jurídicas — elas não sentem dor. Quem paga, de fato, é o consumidor, o trabalhador ou o acionista. No caso do aumento do IRRF sobre JCP, o impacto recai sobre os investidores — muitos deles, fundos de pensão que sustentam a aposentadoria de milhões de brasileiros.
Já no caso das apostas, a tributação mais alta recairia sobre as próprias plataformas — que, por sua natureza lucrativa, teriam capacidade de absorver o custo sem repassá-lo diretamente ao usuário. Ou seja: seria uma forma eficaz de arrecadar sem penalizar o cidadão comum.
A Falta de Transparência no Processo Legislativo
Outro ponto grave é a forma como a alteração foi feita. A retirada do aumento de tributos sobre apostas ocorreu sem qualquer justificativa pública. Não houve audiência, não houve debate na comissão mista da MP, não houve consulta à sociedade. Parece haver, no mínimo, um conflito de interesses não declarado.
Será que lobistas das casas de apostas tiveram acesso privilegiado aos gabinetes? Será que interesses eleitorais pesaram mais do que o bem-estar social? São perguntas que merecem respostas — e que o Congresso Nacional precisa investigar com urgência.
O Papel da Mídia e da Opinião Pública
Aqui entra você, leitor. Enquanto a mídia foca em escândalos políticos e fofocas de celebridades, decisões como essa passam quase despercebidas. Mas são elas que moldam o futuro do país. Cabe à sociedade civil exigir transparência, responsabilidade e equilíbrio na política fiscal.
Compartilhar informações, cobrar deputados e senadores, participar de debates públicos — tudo isso faz diferença. A democracia não se exerce apenas nas urnas, mas todos os dias, com consciência e engajamento.
O Que Poderia Ter Sido Feito Diferente
Se o governo quisesse realmente equilibrar as contas sem sacrificar a indústria, tinha alternativas claras:
1. Manter o aumento de 12% para 18% sobre apostas esportivas — setor com alta lucratividade e baixo impacto produtivo.
2. Criar um fundo social com parte da arrecadação — destinado a programas de prevenção ao vício em apostas, especialmente no Nordeste.
3. Rever benefícios fiscais a setores não essenciais — em vez de sobrecarregar quem gera empregos.
4. Simplificar o sistema tributário — reduzindo a burocracia e aumentando a eficiência, não a carga.
Infelizmente, optou-se pelo caminho mais fácil: taxar quem não pode se defender.
A Responsabilidade Social das Plataformas de Apostas
As casas de apostas não são apenas empresas — são agentes sociais com impacto profundo nas comunidades onde operam. Elas têm a obrigação ética de contribuir de forma justa com o Estado, especialmente em um país onde seus serviços estão ligados a problemas de saúde pública.
Países como a Austrália e a Suécia exigem que essas plataformas financiem campanhas de conscientização, ofereçam limites de aposta e bloqueiem contas de usuários em risco. No Brasil, predomina o vale-tudo. Até quando?
O Futuro da Indústria no Nordeste Está em Jogo
O Nordeste tem potencial imenso: energia solar e eólica abundante, mão de obra qualificada, vocação para indústrias de alta tecnologia. Mas esse potencial só se concretizará se houver um ambiente fiscal estável e justo. Cada novo imposto arbitrário é um passo atrás na corrida pelo desenvolvimento regional.
A Associação Nordeste Forte não está defendendo apenas interesses corporativos — está defendendo o futuro de milhões de nordestinos que dependem da indústria para ter acesso a empregos dignos, renda estável e mobilidade social.
Precisamos de uma Nova Ética Fiscal no Brasil
Chegou a hora de repensar quem paga o quê — e por quê. Não se trata de isentar ninguém, mas de tributar com inteligência, justiça e visão de longo prazo. O Brasil não pode continuar tratando a indústria como inimiga e as apostas como aliadas.
A tributação deve refletir valores: proteger o trabalho, incentivar a produção, desestimular comportamentos de risco. Hoje, estamos fazendo exatamente o oposto.
Conclusão: Uma Escolha Entre Produção e Especulação
A decisão de retirar o aumento de tributos sobre apostas esportivas da MP 1303/2025 não é apenas um erro fiscal — é um erro de civilização. É a escolha consciente de privilegiar a especulação em detrimento da produção, o vício em detrimento do trabalho, o curto prazo em detrimento do futuro.
Enquanto o Nordeste sangra com famílias destruídas pelas *bets*, o governo fecha os olhos. Enquanto fábricas lutam para sobreviver, o Estado aperta o parafuso. Isso não é política econômica — é abandono.
A indústria brasileira não pede privilégios. Pede apenas equidade. E o povo brasileiro merece um Estado que proteja seus cidadãos, não suas vícios.
Perguntas Frequentes (FAQs)
1. Por que as apostas esportivas online são tão prejudiciais no Nordeste?
O Nordeste combina alta vulnerabilidade socioeconômica com acesso crescente à internet e poucas oportunidades de emprego formal. Isso torna jovens e adultos mais suscetíveis às promessas ilusórias de enriquecimento rápido oferecidas pelas plataformas de apostas, levando a endividamento, estresse familiar e problemas de saúde mental.
2. O que é JCP e por que aumentar seu imposto afeta a economia?
JCP (Juros sobre Capital Próprio) é uma forma legal de empresas distribuírem lucros aos acionistas com tributação diferenciada. Aumentar o IRRF sobre JCP desestimula investimentos em ações, reduz a atratividade do mercado de capitais e impacta fundos de pensão e investidores individuais, diminuindo a poupança nacional.
3. A tributação mais alta sobre apostas não vai acabar com o setor?
Não. Países como França e Reino Unido têm alíquotas mais altas e o setor continua operando — mas de forma mais responsável. A tributação adequada inibe o crescimento desenfreado e força as plataformas a adotar práticas de jogo seguro, protegendo os consumidores.
4. Qual a diferença entre tributar apostas e tributar indústria?
Apostas geram riqueza financeira especulativa, sem produção concreta de bens ou serviços. A indústria, por outro lado, cria empregos, exportações, inovação e valor real. Tributar mais quem produz e menos quem especula distorce a economia e penaliza o trabalho.
5. O que a sociedade pode fazer para mudar essa situação?
Cobrar transparência no Congresso, apoiar entidades representativas como a CNI e a Nordeste Forte, compartilhar informações sobre os riscos das apostas e exigir políticas públicas de proteção ao consumidor. A pressão social é fundamental para corrigir distorções fiscais e éticas.
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