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Por Que a Ausência de Aguinaldo e Damião na MP das Bets Coloca em Risco a Aliança de Lula com o Centrão?

Na manhã de quinta-feira, 9 de outubro de 2025, enquanto o país ainda digeria os efeitos da inflação e os rumores sobre uma possível reforma tributária, um silêncio ensurdecedor ecoou nos corredores do Congresso Nacional. Dois nomes-chave — Aguinaldo Ribeiro e Damião Feliciano — simplesmente não compareceram à votação da Medida Provisória que regulamenta as apostas esportivas online. A ausência, aparentemente técnica, rapidamente se transformou em um terremoto político. Afinal, quando aliados essenciais desaparecem no momento mais crítico, o que isso revela sobre a saúde da coalizão governista?
A presidente estadual do PT na Paraíba, deputada Cida Ramos, não titubeou ao ser questionada pela Rádio CBN: “Isso é um sinal de alerta. O presidente Lula precisa de sintonia, não de silêncios convenientes.” Suas palavras, carregadas de frustração, ecoaram como um grito de socorro em meio a um jogo político cada vez mais imprevisível.
Mas o que há por trás dessa ausência? Seria apenas uma questão logística? Um desentendimento pontual? Ou estamos diante de rachaduras profundas que ameaçam desmontar a base de sustentação do governo federal?
O Jogo das Apostas: Mais do Que Dinheiro, Poder
A Medida Provisória das apostas esportivas (MP das bets) não é apenas um projeto técnico para regular um setor em expansão. Ela é, na verdade, um campo de batalha onde se disputa influência, receita tributária bilionária e, acima de tudo, lealdade política. Estima-se que o mercado de apostas online movimente mais de R$ 50 bilhões por ano no Brasil — um montante capaz de financiar campanhas, construir alianças e até redefinir mapas eleitorais.
Por que essa MP é tão estratégica?
Porque ela define quem controla a fiscalização, quem arrecada os impostos e, crucialmente, quem distribui os contratos de licenciamento. Em um cenário de escassez orçamentária, qualquer fatia desse bolo é cobiçada.
Aguinaldo e Damião: Os Fantasmas da Lealdade
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder do Centrão e ex-ministro das Cidades, é um dos pilares da articulação política de Lula no Congresso. Já Damião Feliciano (MDB-PB), médico e empresário, é uma figura influente no Nordeste e um dos principais defensores da pauta digital e de inovação no Legislativo.
Ambos têm histórico de apoio ao governo, mas sua ausência na votação da MP das bets levantou suspeitas. Seria uma forma de protesto silencioso? Uma negociação nos bastidores que não deu certo? Ou simplesmente um recuo estratégico diante da pressão de setores religiosos e conservadores, historicamente críticos às apostas?
Cida Ramos Dispara: “Lula Precisa de Sintonia, Não de Silêncios”
Em entrevista contundente à CBN, a deputada Cida Ramos não poupou críticas. “Não se constrói uma governabilidade com ausências. O presidente Lula está aberto ao diálogo, mas não pode ser deixado na mão no momento em que mais precisa de apoio”, afirmou.
Sua fala não é apenas uma reprimenda pessoal — é um recado ao núcleo duro do PT e à base aliada: a paciência tem limites. E, em política, limites costumam ser testados até o ponto de ruptura.
O Centrão em Xeque: Entre o Apoio e a Autonomia
O Centrão, bloco informal de partidos que historicamente oscila entre governos, vive um dilema existencial em 2025. Por um lado, precisa manter o acesso ao poder e aos recursos do Executivo. Por outro, busca preservar sua autonomia para negociar vantagens em 2026.
A ausência de Aguinaldo e Damião pode ser lida como um teste de força: até onde o governo está disposto a ceder para manter a lealdade? Se a resposta for “pouco”, o risco é ver o bloco migrar para a oposição ou, pior, adotar uma postura de neutralidade tática — o que, na prática, enfraquece a governabilidade.
As Apostas Esportivas: Um Tabuleiro de Riscos e Recompensas
Regulamentar as apostas online é uma faca de dois gumes. Por um lado, traz transparência, arrecadação e proteção ao consumidor. Por outro, alimenta temores sobre vícios, lavagem de dinheiro e exploração de vulneráveis.
E o Congresso sabe disso. Cada voto é calculado não apenas com base em princípios, mas em pressões de igrejas, operadores internacionais, estados e até clubes de futebol — muitos dos quais já firmaram parcerias milionárias com casas de aposta.
A Paraíba no Olho do Furacão Político
Curiosamente, tanto Aguinaldo quanto Damião são paraibanos — e a Paraíba tem sido palco de intensas movimentações políticas nos últimos meses. Com as eleições de 2026 se aproximando, o estado se tornou um laboratório de alianças, traições e renovações.
Tião Gomes (PSB), por exemplo, já sinalizou interesse em disputar uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE), enquanto Hugo Motta (Republicanos) articula encontros regionais para fortalecer sua base. Nesse cenário, a ausência dos dois deputados federais na MP das bets pode ter raízes locais — talvez uma tentativa de não se queimar com setores eleitorais sensíveis antes de 2026.
Lula e a Arte da Costura Política: Está Funcionando?
O presidente Lula sempre se orgulhou de sua capacidade de negociar com adversários. Mas, em 2025, essa habilidade está sendo posta à prova como nunca. A inflação persistente, a lentidão nas reformas e agora a fragilidade da base aliada criam um cenário delicado.
Será que o encanto do diálogo está se esgotando? Afinal, em um Congresso cada vez mais fragmentado e mercantilizado, palavras podem valer menos do que cargos, verbas e emendas.
O Silêncio Como Estratégia: Uma Leitura Alternativa
Talvez a ausência de Aguinaldo e Damião não seja um sinal de ruptura, mas de estratégia defensiva. Ao se absterem, eles evitam assumir uma posição clara — o que lhes dá margem para negociar tanto com o governo quanto com a oposição.
Em tempos de polarização, o silêncio pode ser a arma mais poderosa. Mas também a mais perigosa: porque, quando todos esperam um gesto de lealdade, a neutralidade é percebida como traição.
O PT em Estado de Alerta: A Base Reage
Dentro do PT, a reação foi imediata. Dirigentes estaduais e nacionais começaram a articular reuniões de emergência para “reavaliar alianças”. A preocupação não é apenas com a MP das bets, mas com o que ela representa: a possibilidade de que o Centrão esteja se descolando do governo.
Se isso se confirmar, Lula pode ser forçado a buscar novos parceiros — talvez até no campo progressista que historicamente o criticou por alianças com partidos fisiológicos.
A MP das Bets: O Que Está em Jogo Além do Dinheiro?
Mais do que regular um setor, a MP das bets define o futuro da relação entre Estado e mercado digital. Ela toca em temas como proteção de dados, responsabilidade social das plataformas e até soberania tecnológica.
Ela também testa a capacidade do governo de impor uma agenda. Se Lula não consegue aprovar uma medida apoiada por setores econômicos poderosos, como esperar avançar em pautas mais complexas, como reforma tributária ou ambiental?
O Relógio de 2026 Está Tocando
Faltando pouco mais de um ano para as eleições municipais e estaduais de 2026, cada movimento no Congresso é lido como um ensaio para o futuro. Deputados pensam em reeleição, senadores em governos estaduais, governadores em candidaturas presidenciais.
Nesse contexto, a lealdade é temporária, mas o poder é eterno. Aguinaldo e Damião sabem disso — e talvez estejam apenas posicionando suas peças no tabuleiro.
A Lição de Maquiavel: Aliados Hoje, Rivais Amanhã
Nicolau Maquiavel escreveu, há séculos, que “os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio”. Em política, isso se traduz assim: alianças duram enquanto há vantagem.
O governo Lula ofereceu cargos, emendas e visibilidade. Mas se o custo político de apoiar certas pautas começar a superar os benefícios, até os aliados mais próximos podem recuar.
A Pressão dos Evangélicos: Um Fator Esquecido?
Um detalhe frequentemente ignorado na análise da MP das bets é a forte oposição de bancadas evangélicas. Muitos pastores e líderes religiosos veem as apostas como um “pecado moderno”, uma ameaça moral à juventude.
Aguinaldo e Damião, embora não sejam figuras religiosas, representam estados com forte influência evangélica. Sua ausência pode ser uma forma de não antagonizar esse eleitorado crucial para 2026.
O Que o Futuro Reserva para a Governabilidade de Lula?
Se a ausência de dois deputados parece um detalhe, pense de novo. Em um Congresso onde cada voto pode definir o destino de uma reforma, a governabilidade se constrói voto por voto, gesto por gesto.
Se o governo não reagir com firmeza — seja com diálogo, seja com sanções políticas —, corre o risco de ver outras ausências se multiplicarem. E, em política, o efeito dominó é implacável.
Conclusão: O Preço da Lealdade em Tempos de Incerteza
A ausência de Aguinaldo Ribeiro e Damião Feliciano na votação da MP das bets é mais do que um episódio isolado. É um sintoma de um sistema político em crise de confiança, onde alianças são frágeis e o poder é negociado a cada instante.
Lula, um mestre da negociação, agora enfrenta seu maior desafio: reconstruir a confiança sem abrir mão de sua agenda. Cida Ramos está certa ao cobrar sintonia — mas sintonia exige reciprocidade. E, no jogo do poder, quem dá o primeiro passo muitas vezes termina sozinho.
A pergunta que fica não é “quem faltou à votação?”, mas sim: quem estará ao lado de Lula quando o próximo teste chegar?
Perguntas Frequentes (FAQs)
1. Por que a MP das apostas esportivas é tão importante para o governo Lula?
A MP não apenas regulariza um mercado bilionário, mas também gera receita tributária essencial para o orçamento federal e fortalece a imagem do governo como modernizador e regulador do setor digital.
2. Quem são Aguinaldo Ribeiro e Damião Feliciano, e por que suas ausências geraram tanto impacto?
Ambos são deputados federais da Paraíba com influência nacional: Aguinaldo é líder do Centrão e ex-ministro; Damião é figura-chave nas pautas de tecnologia e saúde. Suas ausências sinalizam possível racha na base aliada.
3. O que a deputada Cida Ramos quis dizer com “sintonia com Lula”?
Ela criticou a falta de alinhamento político entre aliados e o presidente, sugerindo que o apoio ao governo deve ser ativo e visível, especialmente em votações estratégicas.
4. As apostas esportivas online são legais no Brasil atualmente?
Não há uma regulamentação federal clara. A MP em discussão visa criar um marco legal, com licenças, fiscalização e tributação, colocando fim à zona cinzenta em que o setor opera.
5. Essa crise pode afetar as eleições de 2026?
Sim. A fragilidade da base governista pode levar a realinhamentos partidários, mudanças de alianças estaduais e até impactar a candidatura de nomes ligados ao governo, especialmente no Nordeste.
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