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A Voz que Ecoa do Delta: Como Uma Secretária de Araioses Está Redefinindo a Luta pelos Direitos das Mulheres no Brasil
Em um país onde as vozes do interior muitas vezes se perdem nos corredores do poder em Brasília, surge uma narrativa inesperada — e profundamente necessária. Enquanto o mundo observa as grandes capitais, uma mulher nascida entre os Lençóis Maranhenses e o Delta do Parnaíba carrega consigo não apenas a bandeira de seu município, mas a esperança de milhares de mulheres invisibilizadas. Andrelina Ribeiro, secretária municipal da Mulher de Araioses, está na 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (CNPM) não como figurante, mas como protagonista. E sua presença levanta uma pergunta urgente: quem realmente representa as mulheres brasileiras nas mesas de decisão?
O Chamado das Margens: Quando o Interior Entra no Palco Nacional
Araioses, com seus pouco mais de 30 mil habitantes, pode parecer um ponto minúsculo no mapa do Maranhão. Mas em setembro de 2025, tornou-se um epicentro simbólico da luta por equidade de gênero no Brasil. A trajetória de Andrelina Ribeiro — da gestão local à conferência nacional — é mais do que uma ascensão política; é um testemunho de que a representatividade começa onde a burocracia costuma esquecer.
Como ela mesma afirma: *“Passamos pela etapa municipal, depois pela estadual, e agora chegamos aqui, em Brasília, não por acaso, mas por necessidade.”* Essa necessidade é coletiva. É a das mulheres que enfrentam violência doméstica sem delegacias especializadas, que trabalham na agricultura familiar sem acesso a crédito, que criam filhos sozinhas enquanto o Estado se cala.
A 5ª CNPM: Mais do Que um Evento, Um Termômetro da Democracia de Gênero
Realizada entre 29 de setembro e 1º de outubro de 2025, a 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres reúne centenas de delegadas, ativistas, gestoras e pesquisadoras. Mas o que realmente está em jogo? Não se trata apenas de discursos ou resoluções protocolares. Trata-se de redefinir o pacto social entre o Estado e as mulheres.
Historicamente, as conferências nacionais são espaços de participação democrática direta. São nelas que as demandas locais se transformam em diretrizes federais. E, pela primeira vez, municípios como Araioses têm voz ativa nesse processo. Isso não é simbólico — é estrutural.
Do Delta ao Planalto: A Geografia da Representação Feminina
Andrelina não representa apenas um cargo. Ela encarna uma geografia esquecida: a do Nordeste profundo, onde o feminino é força de sobrevivência, mas raramente é reconhecido como força política. Os Lençóis Maranhenses não são só dunas e lagoas — são territórios de resistência. O Delta do Parnaíba, com sua biodiversidade e complexidade social, é também um laboratório de experiências femininas que desafiam estereótipos.
Quando Andrelina fala em Brasília, ela traz consigo o sotaque do Parnaíba, o cheiro do mangue, o suor das quebradeiras de coco, das pescadoras, das professoras rurais. Sua fala é territorial, e por isso, autêntica.
Por Que a Participação de Mulheres do Interior é Revolucionária?
Imagine um conselho de políticas públicas onde todas as vozes vêm de centros urbanos. As soluções propostas tenderão a refletir realidades metropolitanas: transporte público, creches 24h, redes de apoio digital. Mas e nas cidades onde não há delegacia da mulher? Onde o acesso à internet é precário? Onde a violência é silenciada pela cultura do “isso é coisa de família”?
A inclusão de gestoras como Andrelina muda o jogo. Ela não pede apenas recursos — ela redefine o que é “política pública” para contextos periféricos. Representatividade não é ter um rosto diferente na foto oficial; é transformar a agenda.
O Caminho até Brasília: Etapas que Constroem Poder Coletivo
A jornada de Andrelina começou muito antes de sua chegada à capital federal. Em Araioses, a conferência municipal foi um ato de coragem: reunir mulheres em um espaço onde falar de direitos ainda é visto como “rebeldia”. Depois, em São Luís, durante a etapa estadual (19 e 20 de agosto), ela foi eleita delegada — um reconhecimento não só de sua liderança, mas da urgência das pautas que defende.
Esse processo em três níveis — municipal, estadual e nacional — é o cerne da democracia participativa. Ele garante que as políticas não sejam impostas de cima para baixo, mas construídas de baixo para cima, com as mãos calejadas de quem vive a realidade.
Maranhão em Destaque: Um Estado que Resiste e Propõe
Além de Andrelina, o Maranhão conta com a presença marcante da secretária de Estado das Mulheres, Abi’. Juntas, elas formam uma ponte entre o local e o nacional. Enquanto Abi’ articula estratégias estaduais, Andrelina traduz essas estratégias em ações concretas no chão de Araioses.
Essa sinergia é rara — e poderosa. Mostra que, mesmo em um estado historicamente marcado por desigualdades, é possível construir uma política de gênero que não seja apenas reativa, mas propositiva, preventiva e territorializada.
As Três Frentes da Luta: Igualdade, Cidadania e Direitos
Na CNPM, os debates giram em torno de três eixos fundamentais:
1. Igualdade de gênero — não apenas salarial, mas de oportunidades, reconhecimento e segurança.
2. Cidadania plena — acesso à justiça, à saúde, à educação e à participação política.
3. Direitos humanos das mulheres — com foco na erradicação da violência, no respeito às diversidades e na autonomia econômica.
Andrelina insiste que, em Araioses, esses eixos não são abstratos. São traduzidos em rodas de conversa com adolescentes, campanhas de combate ao feminicídio, parcerias com cooperativas femininas e formação de agentes comunitárias.
O Peso do Silêncio: Quando a Violência Não Tem Nome
Uma das maiores barreiras enfrentadas por mulheres no interior do Nordeste é o silêncio institucionalizado. Denunciar pode significar isolamento social, perda de renda ou até risco de vida. Sem delegacias especializadas, sem juizados, sem abrigos, o ciclo de violência se perpetua.
Andrelina sabe disso. Por isso, sua atuação em Araioses prioriza a prevenção comunitária — treinando líderes locais, sensibilizando homens e meninos, e criando redes de escuta. “Não esperamos que a vítima chegue até nós. Nós vamos até ela”, diz.
Autonomia Econômica: O Caminho para a Liberdade Real
Nenhuma política de gênero é eficaz sem autonomia econômica. Em Araioses, Andrelina impulsiona iniciativas que vão além do assistencialismo: microcrédito para empreendedoras rurais, capacitação em turismo comunitário e comercialização coletiva de artesanato.
Essas ações não apenas geram renda — criam dignidade. E, mais importante, oferecem alternativas reais para mulheres que dependem economicamente de agressores. Liberdade sem sustento é ilusão.
A Força das Redes: Como a Solidariedade Transforma Políticas
Nenhuma mulher avança sozinha. Andrelina construiu alianças com movimentos de mulheres negras, quilombolas, indígenas e LGBTQIA+. Em Brasília, ela não fala apenas por Araioses, mas em nome de todas as mulheres que habitam as margens do Brasil.
Essa interseccionalidade é o que dá profundidade à sua atuação. Ela entende que uma política para as mulheres deve ser plural, antirracista e inclusiva — ou não será política nenhuma.
O Futuro Não Espera: O Que a CNPM Pode Entregar em 2025?
A 5ª CNPM tem o potencial de gerar um novo Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, com metas até 2030. Mas para que isso aconteça, é essencial que as vozes do interior sejam ouvidas. Andrelina e outras delegadas estão propondo:
– Criação de delegacias itinerantes para regiões remotas;
– Formação obrigatória em perspectiva de gênero para agentes públicos;
– Fundo Nacional de Apoio a Mulheres Empreendedoras Rurais;
– Ampliação da rede de Casas da Mulher Brasileira para cidades com menos de 50 mil habitantes.
São propostas realistas, viáveis e, acima de tudo, necessárias.
Araioses no Mapa: Quando o Local se Torna Nacional
Até recentemente, Araioses era conhecida pelos ventos dos Lençóis e pelas águas do Parnaíba. Agora, começa a ser reconhecida como um laboratório de políticas feministas no interior do Brasil. A atuação de Andrelina mostra que inovação não é privilégio das metrópoles — ela floresce onde há coragem e escuta ativa.
Ela transformou a secretaria municipal da Mulher em um espaço de protagonismo, não de assistência. As mulheres de Araioses não são beneficiárias passivas — são coautoras das políticas que as afetam.
A Lição de Andrelina: Liderança é Serviço, Não Poder
Em uma era de egos inflados e discursos vazios, a postura de Andrelina é um antídoto. Ela não busca holofotes, mas resultados concretos. Sua liderança é silenciosa, persistente, comunitária. Ela sabe que mudar o Brasil não começa em Brasília — começa em cada rua, cada casa, cada conversa de porta de casa.
“Minha força vem das mulheres que me cercam”, diz. E é essa humildade estratégica que a torna tão eficaz.
Conclusão: O Brasil que Precisamos Está Sendo Escrito nas Margens
Enquanto os holofotes se voltam para os grandes centros, a verdadeira transformação social está acontecendo em lugares como Araioses. Andrelina Ribeiro é mais do que uma secretária — é um símbolo do que é possível quando damos voz, espaço e poder às mulheres do interior.
A 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres não será lembrada apenas pelas resoluções assinadas, mas pelas vozes que finalmente foram ouvidas. E entre elas, ecoará, com força e clareza, o sotaque do Delta do Parnaíba — lembrando a todos que o Brasil só será justo quando suas mulheres mais distantes estiverem no centro da decisão.
Perguntas Frequentes (FAQs)
1. O que é a Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (CNPM)?
A CNPM é um espaço democrático e participativo promovido pelo governo federal, realizado a cada quatro anos, onde representantes de todos os estados debatem, formulam e avaliam políticas públicas voltadas para as mulheres. Seu objetivo é garantir que as necessidades e direitos das mulheres sejam integrados à agenda nacional.
2. Por que a participação de municípios pequenos como Araioses é importante na CNPM?
Municípios pequenos enfrentam desafios específicos — como falta de infraestrutura, isolamento geográfico e escassez de serviços especializados — que não são visíveis nas grandes capitais. A inclusão dessas vozes garante que as políticas públicas sejam realmente universais e não apenas urbanocêntricas.
3. Quais são os principais desafios enfrentados por mulheres no interior do Nordeste?
Além da violência de gênero, as mulheres do interior do Nordeste lidam com limitado acesso à justiça, à saúde reprodutiva, à educação continuada e à autonomia econômica. Muitas ainda enfrentam barreiras culturais que normalizam a submissão e dificultam a denúncia de abusos.
4. Como a secretaria municipal da Mulher de Araioses atua na prática?
A secretaria desenvolve ações como rodas de conversa comunitárias, campanhas de conscientização, parcerias com cooperativas femininas, capacitação profissional e articulação com a rede de proteção (saúde, assistência social, segurança). O foco é na prevenção, empoderamento e escuta ativa.
5. O que pode mudar após a 5ª CNPM em 2025?
A conferência pode resultar em um novo Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, com diretrizes até 2030. Espera-se avanços em áreas como combate à violência, autonomia econômica, saúde integral e participação política, com ênfase em ações descentralizadas e inclusivas para regiões periféricas.
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